Moradores de Gondó denunciam impactos da mineração

Famílias de Gondó reclamam de insegurança no processo de negociação

Ago 27, 2025 - 11:37
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Moradores de Gondó denunciam impactos da mineração
Adelino Alves Ribeiro, cujo a família vive em Gondó há 12 anos
Moradores de Gondó denunciam impactos da mineração
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Moradores de Gondó denunciam impactos da mineração
Moradores de Gondó denunciam impactos da mineração

Apesar de nove famílias terem sido reassentadas em 2008 em Gondó, devido ao avanço da mineração sobre seus territórios de origem, essa comunidade passou a ser atingida por impactos do projeto Minas-Rio, da Anglo American, e hoje é alvo de um processo de reassentamento. Os relatos de moradores evidenciam uma rotina marcada por dificuldades e insegurança: falta de água em qualidade e quantidade, poeira e fuligem constantes, aumento de doenças respiratórias e de pele, problemas financeiros, ruídos e vibrações de explosões que danificam casas. O fluxo intenso de veículos também compromete a qualidade de vida e a segurança da comunidade.

A família de Adelino Alves Ribeiro, que vive em Gondó há 12 anos, aguarda negociações para um novo reassentamento. Ele relata que os impactos em Durão, área mais próxima da Serra do Sapo, se agravaram com o tempo. E conta que “a roupa no varal fica só minério e à tardezinha o mau cheiro da barragem aparece”. A família convive com dificuldades na produção agrícola e com problemas de saúde. “Minha filha, de 12 anos, está reclamando de coceira e gripe que não passa: espirros e nariz seco”, afirma. 

Expansão em meio ao conflito
Em 2015, a Anglo American foi autuada por danos relacionados a carreamentos de rochas na Serra do Sapo. Em 2016, novos episódios confirmaram o risco de que Gondó fosse novamente atingida. No ano seguinte, a mineradora executou obras emergenciais para conter sedimentos. Em 2018 teve início a Etapa 3 do empreendimento e, em 2019, com o aumento dos impactos, os conflitos se intensificaram. Nesse contexto, 21 moradores reassentados próximos às obras foram processados pela empresa.

Na Petição Inicial, a mineradora acusava os moradores de resistência e ameaças durante a execução das obras. As famílias contestaram, alegando arbitrariedade: veículos pesados e máquinas circularam forçadamente em propriedades privadas, sem compensações adequadas. A defesa pede perícia técnica e elaboração de matriz de danos para apurar indenizações. O processo coletivo ainda aguarda julgamento ou acordo.

Já em 2024, a Anglo protocolou na Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) pedido de licenciamento para executar obras de controle, estabilização e monitoramento na face oeste da Serra do Sapo. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) prevê atividades como: supressão de vegetação nativa de Mata Atlântica, intervenções em Área de Preservação Permanente (APP), realocação de reservas legais e compensação florestal, além de potenciais danos à água, ao ar, à fauna, ao solo e de aumento de ruídos e vibrações.

O projeto estima impactos em cerca de 140 hectares no entorno imediato da Área Diretamente Afetada (ADA) licenciada para a Etapa 3. O cronograma se divide em duas fases: de 2024 a 2030, prevê-se intensa atividade minerária, com aumento das intervenções e, consequentemente, dos impactos. Entre 2031 e 2040, está prevista pausa nas lavras da crista da serra, para ações de recuperação ambiental.

Localizada a apenas 2,3 km das obras diretas na Serra do Sapo, a comunidade teme o agravamento dos impactos e reclama da ausência de medidas de mitigação eficazes, tanto para quem aguarda reassentamento quanto para os que permanecerão no território. Para Adelino Ribeiro, os programas oferecidos pela Anglo não são suficientes: “Não participo de nenhum programa da Anglo, nem mesmo o de reestruturação produtiva”.

Novo reassentamento
A proposta de reassentamento defendida pela mineradora divide a comunidade. Segundo o Plano de Ação de Reassentamento (PAR), 74 núcleos familiares são considerados elegíveis, enquanto 76 ficaram de fora, segundo critérios definidos pela própria empresa. A Anglo classifica a oportunidade de reassentamento como “opcional”, já que parte de Gondó se encontra na Área de Influência Direta (AID) definida no EIA.

Assim, famílias residentes entre a MG-010 e o rio Santo Antônio podem optar por permanecer ou serem reassentadas em outro local, de acordo com os critérios do PAR, apresentado até agora apenas em formato de extrato. A comunidade, no entanto, ressalta que todos sofrem os impactos da mineração e reivindicam reparações mais efetivas. Além disso, as famílias reassentadas há 12 anos continuam cobrando da mineradora a titularidade das terras onde foram realocadas.

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