Homenagem a Mestre Teiado

Foi em 1972, durante o início de uma madrugada, que ouvi pela primeira vez o som de um pistom que acompanhava seresteiros.  Era, na ocasião, o Delegado de Polícia da comarca de Conceição do Mato Dentro.  Fui até uma janela do hotel em que me hospedava e vi o grupo, grande, de pessoas que participavam da caminhada e serenata.   O tempo passou e muito depois, já quando os anos 90 corriam, voltei, muitas vezes, como ouvinte privilegiado, a ouvir o som do mesmo pistom, acompanhado de outros músicos amadores e pessoas amantes das serenatas, torresmo, cachaça e muita amizade, vararem madrugadas no casarão da Praça do Rosário cantarem, rirem, viverem…

Hoje, domingo, como há 17 anos, é dia de lembrar Teiado, meu sogro, que tocava o pistom, antecedendo as missas da igreja do Bom Jesus do Matosinhos, o solo do “Pai Nosso” – oração que o próprio Cristo nos ensinou – ou participava em casas, nas ruas e praças de serenatas na sua Conceição do Mato Dentro. Naquele domingo de dezessete anos passados, quando a tarde começava a querer acabar, o telefone tocou e, em vez do som de música, ouvi da interlocutora a notícia, esperada mas nunca desejada, de que o dono do pistom não mais o tocaria. Fui, ontem, sábado, à missa das 18h na Capela de Nossa Senhora da Conceição, do Colégio Arnaldo e, imaginariamente, ouvi o som inesquecível do pistom antecedendo a oração do Pai Nosso. Teiado, pai de tantos filhos, avô de muitos netos, sogro, irmão da “Toninha”, foi-se embora, mas deixou um legado de vida intensa, querida, saudosa, que persistimos em não querer guardar num canto da memória, mas sempre lembrar.

Sérgio Francisco de Freitas 
(marido de Maria de Fátima, uma das  filhas do Teiado)